terça-feira, 31 de julho de 2012

Versificação: o Esquema Rimático

Talvez a forma mais conhecida de analisar a rima, entre os estudantes, seja a do agrupamento dos versos. Para o fazer, os alunos são aconselhados a utilizar o chamado esquema rimático. Para isso, escreve-se uma letra à frente da terminação de cada verso; se a terminação se repetir, repetir-se-á a letra, caso contrário, escreve-se uma nova letra, seguindo o alfabeto. Analisemos agora algumas estrofes para compreender não só como se utiliza o esquema rimático, mas também a designação que cada esquema recebe:
Naquele pique-nique de burguesas, - A
Houve uma coisa simplesmente bela, - B
E que, sem ter história nem grandezas, - A
Em todo o caso dava uma aguarela. - B
Nesta estrofe de um poema de Cesário Verde, os versos rimam alternadamente, seguindo o esquema ABAB. Esta é a chamada rima cruzada ou alternada, que será, talvez, o tipo de rima mais comum.
Ai flores, ai flores do verde pino - A
se sabedes novas do meu amigo - A
ai Deus, e u é? - refrão
Ai flores, ai flores do verde ramo - B
se sabedes novas do meu amado - B
ai Deus, e u é? - refrão
Sendo uma cantiga de amigo, uma das mais famosas escritas por D. Dinis, o excerto deste poema apresenta uma estrutura própria. Tipicamente, as cantigas de amigo são constituídas por dísticos e monósticos, sendo que estes últimas constituem o refrão. No excerto apresentado, os dísticos apresentam um esquema AABB. Esta é a rima emparelhada, uma palavra que designa dois versos organizados como uma parelha, ou seja, agrupados aos pares.
Saudade! Olhar de minha mãe rezando - A
E o pranto lento deslizando em fio... - B
Saudade! Amor da minha terra... O rio - B
Cantigas de águas claras soluçando - A
Neste poema de Da Costa e Silva estamos perante uma forma da chamada rima interpolada ou oposta. Neste exemplo, temos dois versos que rimam separados por outros dois versos que rimam, num esquema ABBA. No entanto, o termo também se aplica quando dois versos que rimam estão separados por dois ou mais versos que não rimam entre si, num esquema ABCDA.
Sei de uma criatura antiga e formidável, - A
Que a si mesma devora os membros e as entranhas - B
Com a sofreguidão da fome insaciável. - A
Dorme que eu velo, sedutora imagem,
grata miragem que no ermo vi;
Dorme - impossível - que encontrei na vida,
dorme, querida, que eu descanso aqui.
Eis dois casos diferentes da chamada rima encadeada. No primeiro excerto, de um poema de Machado de Assis, estamos perante a forma mais comum deste tipo de rima, que surge quando dois versos que rimam estão separados por um verso, num esquema ABA. Mas também se utiliza o termo de rima encadeada quando se fala de um tipo de rima interior, como ocorre no excerto de uma composição poética de Tomás Ribeiro, quando a palavra final de um verso rima com uma palavra que está no meio do verso seguinte.
Café coado na hora
adoçado a rapadura bem escura,
Este excerto de um poema de Drummond de Andrade ilustra a rima leonina, um tipo de rima interior onde uma palavra no meio de um verso rima com a última palavra desse mesmo verso.
Donzela bela, que me inspira a lira,
Um canto santo de fremente amor
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca, arranca-lhe a terrível dor.
Com este quarteto de Castro Alves, eis-nos perante mais uma rima interior, desta feita a rima com eco.
Falta agora mencionar um outro tipo de rima (ou ausência de) que se vulgarizou com os poetas românticos do século XIX: o verso branco ou verso solto, referindo as produções poéticas que não estão sujeitas a rima.

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